O DINHEIRO DO MUDO

Retornando para Várzea Alegre, Otacílio ficou esperando na Policia Rodoviária de Icó um transporte que o levasse para Ouro Branco. Após uma longa espera, por volta de meio dia, sol a pino, surge um caminhão carregado de dormentes de trilho de trem. O guarda a seu pedido manda o motorista estacionar, após o pedido de carona o mesmo a contragosto concorda em levar o passageiro ao seu destino, porém apesar de estar sozinho na boléia do caminhão, manda-o para a carroceria em cima dos dormentes.
Otacílio concorda na hora e diz que vai até em baixo, avalie em cima.
Para sua surpresa avista outro passageiro já acomodado nos dormentes e pensa logo com seus botões. Pelo menos vou ter companheiro para conversar. Ao tentar entabular conversa o colega de viagem só respondeu com gestos.
Era totalmente mudo.
A viagem transcorreu calma e silenciosa.
Ao chegar em Ouro Branco, o mundo se apressou em descer e nesta ocasião caiu perto de Otacílio uma nota de Cinqüenta mil Réis.
Ele imediatamente colocou o pé em cima da nota e mais rapidamente ainda no seu bolso; descendo também do caminhão.
O motorista logo fez a cobrança, chamando-os para dar com os burros n'água.
O mudo botou as mãos nos bolsos da calça, da camisa, abanhou, tateou, revirou, e nada. O canto mais limpo do mundo.
Aperriado e não tendo mais onde procurar, apontou para Otacílio e quase falava ô, ô, ô, u, u, u.
Otacílio negou tudo de pés juntos.
O delegado da cidade foi chamado pelo motorista para resolver a situação, e consternado com a perda de Cinquenta Mil Réis, foi alertado por Otacílio que o mudo só tinha perdido Trinta e Cinco Mil Réis, os outros Quinze Mil Réis quem perdeu foi o motorista que não recebeu a passagem.
O mudo foi convencido que o dinheiro tinha voado e Otacílio junto com o delegado seu amigo foram beber cerveja, dizendo ainda: QUE SÓ TERIA DEVOLVIDO DINHEIRO SE O MUDO CONSEGUISSE FALAR.

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